sábado, 15 de março de 2008

Sonhos


Continuo a querer sentir nos pés a areia da praia do meu imaginário.
Continuo a querer tocar as estrelas, beijar a lua e sentir o sabor das nuvens.
Continuo a querer dançar à chuva.
Continuo a querer entontecer com um beijo.
Continuo a querer partir para longe para saber que o melhor de ir é voltar.
Continuo a querer dizer-te o que não digo porque vai soar pateta (como eu).
Continuo a querer que saibas que uma parte de mim é também tua (e também pequenina, como eu, porque eu também me faço falta).
Continuo a querer perder-me para depois me (re)encontrar.
Continuo a querer amar sem razão.
Continuo a viajar diariamente pelos meus sonhos.
Continuo a confirmar nas minhas lágrimas que não gosto de sal.
Continuo a apaixonar-me ao primeiro olhar.
Continuo a olhar-te com o sorriso de quem te vê pela primeira vez.
Continuo a acabar o meu livro.
Continuo a saber que o amor dói sem que eu fique magoada.
Continuo a acreditar no amor puro, cego, estúpido, que nos estupidifica, que nos entorpece os sentidos e a capacidade de raciocínio.
Continuo a ver nas cores do fim do dia o início do sonho de amanhã.
Continuo com um sorriso nos lábios apesar de, por vezes, alguém mais atento poder descobrir uma lágrima a querer escorrer de um olho mais desatento.
Continuo a rir-me por dentro e por fora (fizeste, sem o saberes, a minha gargalhada sonora voltar a ecoar. Para susto de algumas pessoas, é um facto...).
Sei que me descobriste quando eu estava escondida.
Sei que me senti (mais) pequenina.
Sei que - mesmo sem saberes ou quereres - despertaste-me de um sono profundo. E soube tão bem acordar!
Sei que vou manter-me acordada para o futuro. É que apesar de saber tão bem (e eu sou tão preguiçosa), perde-se muita coisa quando nos deixamos adormecer durante o dia. E eu já sonho tanto durante parte dele...

(Hoje vou sonhar contigo. Desculpa se tal não estava nos teus planos. A verdade é que também não estavas nos meus. Outra verdade é que, apesar de eu insistir que não, adoro que me troquem as voltas...)

E depois?

Hoje acordei tarde.
É um dos meus pequenos prazeres, ficar enrolada no meio dos lençóis sem qualquer sentimento de remorso por render-me à preguiça durante umas horas.
Finalmente, levantei-me e tive um desejo súbito e inultrapassável de saborear um gelado de morango, seguido de um desejo súbito e inultrapassável de fazer 1000 coisas.
Tive também o desejo inultrapassável (podia também chamar-lhe súbito, mas creio que se está a tornar contínuo) de saboreá-lo contigo.
Aproximei-me de ti, dei-te a mão e disse-te, com um olhar quase infantil:"Vamos comer um gelado? E depois vamos correr descalços para a praia? E depois podemos ir vêr o pôr do sol ao Guincho? E depois vamos jantar naquele sítio giro sobre a falésia? E depois vamos comer algodão doce? E depois vamos ver aquele filme que não me lembro o nome mas que tu sabes? E depois vamos...".
Pousaste suavemente um dedo nos meus lábios e com um sorriso nos teus, disseste: "Sim, vamos. Temos tempo para isso tudo e muito mais."



(Abracei-te mais uma vez com o sabor doce da primeira. E depois? Depois ainda vem longe...)

O tempo tem o tempo que o tempo tem


Hoje, o Tempo parou.
Hoje, vou aproveitar para fazer e dizer tudo o que me dá na real gana.
Vou acordar-te com o beijo habitual, arrastar-te (nos) da cama, vestir camisolas grossas, gorros e cachecóis.
Então, subimos ao telhado, dou-te a mão e voamos.
Passamos por lagos, vales, rios, montanhas, tocamos nas nuvens, beijamos o céu e arrepiamos as estrelas.
O tempo parou.
Aterramos no alto de uma montanha com vista para o mar.
Encosto a cabeça ao teu ombro enquanto o sol se parece cada vez mais com uma bola de fogo no horizonte.
O dia em que o Tempo parou está a chegar ao fim.
O hoje vai dar lugar ao amanhã, onde o Tempo volta a ser Tempo, os segundos segundos, os minutos minutos, as horas horas e os dias, dias.
Peço-te baixinho: "Amanhã fazes o tempo parar?"
Sorris com aquele sorriso de quem sabe tudo, abraças-me e eu sei a resposta.


(E depois de amanhã, fazes o tempo parar?)

À procura


Há muito tempo atrás, levantei-me, pus a mochila às costas com tudo o que achei essencial e parti à procura.
Durante meses percorri desertos, atravessei rios, lutei contra as ondas, subi montanhas e desci vales.
Conheci mil pessoas, ri-me com muitas delas, chorei com outras, apaixonei-me por algumas e fiquei deliciada com outras.
Em cada uma procurei um riso particular, um sorriso cúmplice, um corpo desejado, a discussão inteligente e as palavras certas.
Depois de muito procurar, voltei para casa e, cansada com a busca, adormeci profundamente.
Com a sensação de ter dormido dias a fio, espreguicei-me e abri os olhos.
Deitado ao meu lado, tu sorrias.
Deste-me um beijo ao de leve na testa e perguntaste: “Encontraste o que procuras?”


(Amanhã vou acordar nos teus braços)

Magia

Certos dias têm a magia dos livros de contos de fadas.
Certas noites têm a magia que só pode ser vista através de olhos mágicos.
Certas vezes, a magia está ao alcance de uma mão (quer de dia quer de noite...)
Hoje, vou pôr o meu vestido comprido vermelho, prender o cabelo, dançar abraçada a ti até à noite acabar e ver nascer o dia através dos teus olhos.

( Eu vou abrir os meus... Queres ver o mundo através deles?)

A frase certa (que só eu sei)

Às vezes Eu penso se tu és Tu.
Penso que serias Tu se me dissesses certas palavras construídas na frase certa que só eu sei.
Seria tudo tão fácil apesar de (sem saber porquê...) eu me convencer que seria tudo tão difícil.
Seria o fim do jogo da apanhada e do toque-e-foge.
Seria o apito do árbitro após o Portugal-Inglaterra no Euro 2004.
Seria o fim de exagerarmos actos para compensarmos a falta de palavras.
Seria o fim do dizer-te tudo, quando o que eu quero é não ter de te dizer nada.
Seria o início de algo que algures não deixámos que fosse.
Mas eu conheço-me a mim e sei que não te vou dizer a frase certa que só eu sei. Nem mesmo as palavras por ordem aleatória, tipo puzzle, para tu a adivinhares.
E não te conheço capacidades divinatórias.
Vou continuar a guardar a frase certa que produziria efeitos mágicos só para mim (será o meu maior segredo...).
Assim, eu vou continuar a ser eu.
E tu continuarás a ser tu.

(Um dia, se Tu a descobrires, dizes-ma? Podes sussurá-la ao meu ouvido ou gritá-la bem alto...Prometo que Eu a vou ouvir.)

Há pessoas...


Há pessoas que entram nas nossas vidas e que nunca mais dela saem.
Umas chegam de mansinho, enquanto outras são mais ousadas e que, tal como a chuva tropical, chegam de repente, sem qualquer anúncio prévio.
Tal como a chuva, muitas delas partem tão rápida e intensamente como chegaram.
Outras, apesar da sua aparição repentina, permanecem na nossa vida para sempre.
Estas últimas são como um presente inesperado, embrulhado em várias camadas de papel e envolto em bolinhas de esferovite.
À medida que os vamos abrindo, vamos descobrindo uma nova história, um pequeno mistério, um grande sorriso. E juntos, criamos um conto.
Há pessoas que chegam de mansinho e que entram na nossa vida discretamente (tão discretamente que, por vezes, só quando se vão embora é que nós nos apercebemos que elas sempre cá estiveram).
Há pessoas que nos fazem rir, que nos ouvem, que nos estendem a mão (mesmo quando pensamos estar num local inalcançável), que nos inspiram, que nos fazem querermos ser melhores pessoas, que nos abraçam, beijam e que nos compreendem em silêncio.
Há pessoas que, pura e simplesmente, chegam. E nunca chegam a sair.

Sei que tu não és como a chuva dos trópicos. Chegaste de mansinho. Ficaste. E eu fiquei também. Para o que der e vier.

(É tão contraditório dizer-te “adeus”…)

Desejos

Ontem, encontraste-me sem eu saber (Dizes-me como é que o fizeste?...).
Deste-me a mão, pegaste-me ao colo e levaste-me para o nosso lugar.
Lembro-me de ter hesitado antes de te estender a mão.
Mas a tua parecia tão firme e decidida que rapidamente perdi o medo.
Mais uma vez, perdi também a noção da hora e do espaço.
Beijaste-me suavemente e com um sorriso quase infantil, perguntaste: "Se pudesses pedir um desejo agora, qual seria?"
Olhei para ti com ternura e, enquanto te fazia uma festa numa ponta mais rebelde dos teus cabelos, respondi: "Saber o que desejar".

(Pede um desejo...)

Só hoje

Chego de mansinho, abraço-te e puxo-te com doçura para o sofá.
Pouso a cabeça no teu ombro e tu fazes festas na minha cabeça com a naturalidade que há muito conhecemos.
Durante umas horas, o frio, o escuro e os problemas mundanos ficam lá fora e ficamos só nós, cá dentro.
O relógio pára e o tempo é aquilo que nós queremos que ele seja.
Hoje e agora deixamos que os nossos corpos falem a linguagem secreta que nós dois criámos e que entendemos tão bem.
Hoje, só hoje, abraço-te como se o amanhã fosse uma simples palavra do dicionário e esqueço o significado de ontem.
Hoje, só hoje, sei que não vou a mais lado nenhum excepto onde os teus braços me quiserem levar.
Sinto o sono chegar, devagarinho e, abraçada a ti, deixo-me levar para o mundo dos sonhos.
Sei que amanhã vou afastar o teu corpo que permanece colado ao meu, vou beijar-te e partir para longe.
Hoje, fico aqui.
Hoje, só hoje…

(Lá ao fundo, mas cada vez mais perto, começo a ouvir “Tic Tac, Tic Tac”…)

Jogos


Quando era (mais) pequenina, gostava de brincar à apanhada e jogar futebol.
À medida que crescemos, os jogos tornam-se outros.
Deixamos de correr atrás de quem gostamos e limitamo-nos a marcar pontos no campo da vida.
Não dizemos o que pensamos ou sentimos (era tão mais fácil se o fizéssemos...).
Criámos barreiras, erguemos muralhas no meio do nada e aumentámos o tamanho das balizas.
Quero voltar a ser (mesmo) pequenina. Quero lembrar-me do que é correr atrás de ti. E tu atrás de mim. E de te dizer - sem medo nem receios - que por muito que tentemos posicionar-nos em lados opostos, a baliza onde tentamos marcar golos é eternamente a mesma.
Quero voltar a acreditar que o dia de hoje traz um amanhã colado ao dia de hoje e que essa cola é a mesma noite para nós dois.
Quero perceber se nos conhecemos Antes e se teremos um Depois.
Acredito que o mundo pára quando me abraças. Que os nossos pés fazem amor. Que nós valemos a pena. Que andamos na mesma direcção ainda que com passos diferentes.
Quero deixar de jogar este jogo e voltar a jogar à apanhada e futebol. Àquele jogo que não é jogo. Àquela altura em que eu era simplesmente eu...

(Atiras-me a bola?)

Turbilhão

Hoje, tal como nos últimos meses, fui arrastada da cama por um turbilhão.
"Para onde me levas hoje?", perguntei eu a medo. Tal como todos os dias, não obtive qualquer resposta. "É que para onde quer que me leves, eu continuo a não saber se é para aí que quero ir e nos últimos tempos já fiz tantas viagens..."
O turbilhão silencioso levantou-me bem alto, atirou-me para a direita e para a esquerda, para cima e para baixo, fez-me fazer o pino e, por fim, pousou-me suavemente numa ilha deserta.
Apesar da paisagem perfeita, continuei a sentir-me perdida.
Aí, observei o mar calmo (oposto a mim) e a areia quente (talvez ainda como eu).
Vi também uma garrafa acabada de ser atirada pelas ondas para a costa. Aproximei-me e, ultrapassando o recente medo de molhar os pés, agarrei-a.
Abri-a e (tal como nos filmes e livros) retirei de dentro dela um papel. Dizia: "Para te encontrares, precisas de te perder primeiro".


(Perdida já me sinto, senhora garrafa. O que faço agora para me encontrar?)

(Des)Encontros


Hoje, quando acordei, a cama estava vazia.
Chamei por ti. Não respondeste.
Pensei que pudesses estar afónico, por isso levantei-me e corri pela casa à tua procura.
Não te encontrei.
Procurei debaixo da cama (podias estar a fazer um dos teus jogos e estares simplesmente à espera que eu sentisse a tua falta por uns momentos, para depois apareceres, passares os teus braços à minha volta e dizeres: “Achas mesmo que eu ia a algum lado?”).
Não te encontrei.
Saí de casa, corri pela rua e continuei à tua procura.
Virei por uma rua estreita porque pareceu-me sentir o teu cheiro.
Que tola, não sou um perdigueiro e o motivo pelo qual senti o teu cheiro é porque ele continua entranhado em mim.
Vi umas escadas e subi os enormes e numerosos degraus até chegar pertinho do céu.
Seria o sítio ideal para tu estares - pensei eu – já que andas sempre nas nuvens.
Quando cheguei ao topo, percebi que não estavas lá.
Percebi também que tu podes andar sempre nas nuvens, mas que sou eu que ando sempre perto do céu.

Percebi que não te encontrei. Mas a verdade é que não faço ideia se te perdi...

(Procuras-me?)

Há dias

Há dias em que me faz falta uma 25ª hora.
Há dias em que me faz falta o chapéu de chuva que insisto em deixar no armário de casa.
Há dias em que me faz falta uma camisa de reserva para trocar depois de almoço (quem me conhece sabe que eu seria perfeita para fazer anúncios de detergentes para a roupa...).
Há dias em que me faz falta (um bocadinho de) paciência.
Há dias em que me faz falta o silêncio (só aquele bom, que eu tanto aprecio).
Há dias em que me faz falta ter antena do carro para ouvir Aquela música a caminho do escritório.
Há dias em que me faz falta ter 10 anos para dizer tudo o que sinto e penso sem ser julgada.
Há dias em que me faz falta o casaco porque estava atrasada e não me apeteceu voltar para trás (se bem que volto às vezes, quando se trata de um casaco mesmo importante).
Há dias em que me faz falta vêr o pôr do sol sobre o mar e sentir a areia ainda quente nos meus pés descalços.

Mas em (quase) todos os dias o que me faz falta és mesmo tu.

Quase


Tenho pensado em quase-muitas coisas.
Tenho pensado em agarrar na máquina do tempo que tenho guardada (é um segredo quase só-meu) e usá-la para andar quase-para trás (se bem que noutros dias quero usá-la quase-para a frente).
Tenho quase-sorrido ao pensar no que quase-fizémos e quase ficado triste no que deixámos por fazer.
Penso nas quase-palavras, nas quase-frases, nas quase-lágrimas, nas quase-entregas.
"Nesta quase amizade quase nada faz sentido".
Hoje, enquanto sentia o calor do sol nas minhas costas quase-nuas e via o pôr-do-sol, quase senti vontade de te ligar e quase partilhar tudo isto contigo.
Quase...

(Talvez deva apagar os meus "quases". Guardo só um ou dois, os que quase me fazem falta. O que achas?)

O teu lugar


Hoje, depois de um dia de praia, estive em arrumações.
Dei especial atenção a um armário, ao seu conteúdo e à lógica da sua arrumação.
Nas prateleiras de baixo, estava a minha toga, o meu fato de taekwondo, os meus livros de Direito e do Harry Potter, vários grãos de areia, restos do teu perfume, uma foto do meu cão, música, uma rosa antiga que ainda não perdeu o cheiro ou a cor e um frasco com água do mar.
Nas prateleiras de cima, estavam as fadas, os carros de várias cores, o brilho do sol guardado num frasquinho, uma estrela cadente, uma varinha de condão, um cinto preto, uma casa a que eu chamo de minha e também de lar, cem dossiers nos quais escrevi "findo" com um sorriso e um bilhete que diz "amo-te" escrito numa letra decidida.
Na mais alta de todas (naquela em que te peço para me agarrares ao colo de forma a eu trazer o que quero para baixo), resolvi guardar algumas coisas das prateleiras mais baixinhas e outras coisas das prateleiras mais altas.
De uma forma confusa, tentei misturar a racionalidade com a emotividade e o actual com o futuro.
Algures no armário, fica ainda a prateleira dos Sonhos. Daqueles que temos acordados e dos quais nunca mais nos esquecemos. Daqueles que já foram reais (ou talvez daqueles que temos enquanto dormimos e não nos apercebemos...) e hoje estão nos braços de Morfeu.

(Já acordei abraçada a ti. Já me perdi nos teus braços. Já me encontrei no teu olhar. Agora só falta descobrir a prateleira onde te arrumar...)

A lei da atracção


Procurei debaixo de uma pedra. Não Te encontrei.
Olhei para cima, mas também não estavas em nenhuma nuvem que pairava no céu.
Olhei para a água do mar, mas a única coisa que vi foi o meu reflexo.
Procurei nas estrelas, mas só vi o brilho delas. E se Te visse aí, serias tão pequenino (mais do que eu) e eu procuro-Te em ponto grande.
Olhei para a lua, mas ela estava tão longe que precisaria de binóculos para Te ver e não tinha nenhuns comigo.
Talvez Tu não existas. No entanto, eu prefiro pensar que, simplesmente, ainda não Te encontrei...

(O que achas, Amor?)

Já e ainda


Já fiz as malas e parti para longe passados minutos.
Já provei as minhas lágrimas e confirmei (várias vezes) que não gosto de sal.
Já me ofereceram a lua.
Já fiquei tonta com um beijo.
Já me fizeram uma serenata.
Já doei o meu coração e, estranhamente, fiquei mais viva...
Já dancei à chuva.
Já me abraçaram como se não houvesse mais abraços para dar. E ainda havia tantos...
Já me apaixonei ao primeiro olhar.
Já me desencantei ao segundo.
Já plantei uma árvore e quase escrevi um livro.
Já me disseram que o meu sorriso é uma dádiva.
Já me doeu o corpo por este não estar abraçado a outro (em particular...).
Já dancei de olhos vendados.
Já vi nascer o sol numa praia de outro continente.
Já me sentir desfazer por dentro e permanecer incólume por fora.
Já me emocionei com emoções que depois se tornaram minhas.
Já chorei de alegria.
Ainda...
Ainda não fiz ou senti um terço das coisas que me passam pela minha cabeça.

(Continuo a querer abraçar o mundo. Mas quero abraçar-te também a ti... Abres os braços?)

Passos e livros

Estou a (re)aprender a dançar.
Cada dia, aprendo um novo passo.
Um mais curto, outro mais longo, um para a direita, outro para a esquerda, um mais rápido, um mais lento, um com uma difícil pirueta, outro tão simples como o pisar dos teus pés.
Cada dia, esse (novo) passo deixa de ser tão novo e passa a ter o seu quê de conforto, monotonia (e sim, a monotonia pode ser boa=)) e de refúgio quanto ao resto do mundo.
Como os livros. Aqueles que já lemos vezes sem conta, que guardamos numa estante ou numa gaveta, que até podem estar escondidos, mas que nós sabemos sempre onde estão e como podemos voltar a encontrá-los.
E a cheirá-los. Sabem de que cheiro falo? Os livros antigos têm aquele cheiro, acre e doce, inconfundível e guardam aquelas palavras que já sabemos de cor e que sabem tão bem...
Depois temos os passos novos. Aqueles que nunca aprendemos, nunca vimos, nunca experimentámos.
Como os livros novos. Aqueles que só por terem acabados de chegar às nossas mãos, nos suscitam curiosidade em ler as primeiras páginas. Apesar de, em muitos deles, sermos capazes de descortinar o seu fim após a leitura do primeiro capítulo.
Tal como na dança e nos livros, aprendi a deixar-me levar (e eu tenho a mania do controlo...) e a saborear cada passo e cada página com toda a intensidade do meu ser. Apesar de saber que um dia, os passos e as páginas esgotar-se-ão... Tanto os antigos como os novos...
Até lá, vou dando um passo para trás, outro para a frente, virando uma página, revirando outra.
E, hoje e aqui, nada mais importa. Só os nossos pés e as nossas mãos..

(E tu, atreves-te a deixar-te levar?)